O Instituto de Cultura Ibero-Atlântica promoveu, em 23 de Junho, no Auditório do Museu de Portimão, duas conferências sobre a batalha de Alcácer de Quibir.
Leiam abaixo as sinopses e vejam a vídeo- gravação através da seguinte ligação:
https://youtu.be/jbuDs-gyfBE
A primeira conferência intitulada “Os renegados de Alcácer Quibir foi proferida por Frederico Mendes Paula. A segunda foi proferida por António Jorge Afonso, com o título “As relações com Marrocos depois de Qued Al-Makhazin. O caso particular do renascimento Alauita”.
O Arquiteto Frederico Mendes Paula falou sobre a condição dos Renegados (cativos portugueses durante a batalha de Alcácer Quibir que recusaram a redenção, permanecendo na corte marroquina em condições adversas). Esclareceu que tal condição não se tratava de uma simples “troca de campo”, mas sim uma radical alteração de valores, de religião e, sobretudo, da própria identidade. Essa condição representava, na maioria dos casos, o estádio final de um processo que envolvia a actividade corsária e o negócio de cativos, muitos dos quais, para sobreviverem, “arrenegavam”. Outros, uma minoria, eram fugitivos europeus condenados por crimes nos seus países de origem, que em Marrocos tinham a possibilidade de refazer as suas vidas, ou eram aventureiros em busca de fama e de enriquecimento fácil.
O grande número de prisioneiros portugueses da Batalha de Alcácer Quibir fez com que a influência dos renegados em Marrocos ganhasse relevância, pois constituía uma nova elite muito importante para a modernização do país, e que teria o seu apogeu após o ano de 1603, com a morte do sultão Ahmed Al-Mansur e das subsequentes lutas internas pelo poder, em que os renegados tiveram um papel decisivo nas lideranças das várias facções.
O Professor António Jorge Afonso explicou como foram estabelecidas as relações entre Portugal e Marrocos após a fatídica batalha. Sultões de aguçada inteligência e pragmatismo como Muhammad Ben ‘Abd Allah e Muley Sulayman; monarcas rejeitados pelo centralismo europeu como Muley Yazid; diplomatas de excepção como Muhammad Ben Othman, Jorge Pedro Colaço e Fr. Manuel Rebelo da Silva, geriram num contexto de grande incerteza internacional as relações luso-marroquinas.
A documentação existente nos arquivos portugueses espelha bem a forma como as ligações com os sultões marroquinos sobreviveram e prosperaram num tempo em que no Magrebe se acentuou a ingerência das potências europeias.
Num espaço geopolítico pouco interessante para as elites do Reino, mais interessadas em cargos próximos dos grandes centros de decisão europeus, Portugal colocou nas mãos dos Colaço e de alguns ilustres arabistas a gestão dos negócios marroquinos a que também os sultões alauitas dedicaram particular atenção.