“[Eram] verdadeiros compinchas da [leitura]. Eram um médico, Hector Abad Gómez; um jornalista, Alberto Aguirre; um pintor, Fernando Botero; e um poeta, Gonzalo Arango. Tinham todos vinte e tal anos; tinham todos vontade de fazer coisas importantes. Reuniam-se para beber aguardente falar de política e recitar versos…” (“Olhar para trás”, Juan Gabriel Vásquez).
Também nós somos todos verdadeiros compinchas da leitura. Temos todos mais de vinte e tal anos; e ainda temos todos vontade de fazer coisas importantes. Esta noite, reunimo-nos para beber café com um cheirinho de aguardente colombiana, falar dos livros de Juan Gabriel Vásquez, recitar versos de poetas colombianos e, depois, guiados mentalmente pelo João Ventura, e sem sair do Clube União, caminhar desde La Candelária, em Bogotá, atravessa[r] a Praça do Rosário até à Rua 14, onde o poeta José Asunción Silva se matou com um tiro no coração em 1896; depois (…) desc[er] pela Rua 10, dando passos cuidadosos sobre os paralelos que cobrem essa rua como tartarugas mortas, e caminh[ar] devagar rente à janela pela qual saltou Simón Bolívar na nefasta noite em que um bando de conjurados entrou em sua casa brandindo espadas e tentou assassiná-lo no seu próprio quarto; desemboca[r] na Sétima, nas imediações do Capitólio, diante das duas placas de mármore que, com certa redundância incómoda, lamentavam o crime do general Rafael Uribe Uribe; a seguir, mais quatro quarteirões para norte, (…) chegar à frente do desaparecido edifício Agustin Nieto, ou melhor, até ao local do passeio onde caiu assassinado Jorge Eliécer Gaitán.” (Juan Gabriel Vásquez, “A forma das ruínas”).
Aqui fica o retrato dos compinchas da Comunidade de Leitores do ICIA (eu próprio, Maria Da Graça Ventura, Joao Munhá, Elsa Martins, Carlos Carrelo da Conceição, Maria Filomena Conceicao, Abel Rocha Neves, Paulo Segurado, o anfitrião), reunidos à volta de mesas, no Clube União, em Portimão, que esta noite mais lembrou as mesas boémias dos bares e “chicherias” de Bogotá, onde as figuras reais dos livros de Gabriel Vásquez se reuniam em tertúlias literárias e políticas.
Próxima tertúlias:
26 maio: “A ilha fantástica” e “Do monte cara vê-se o mundo” | Germano Almeida (Cabo Verde)
Em data a anunciar: “Como poeira ao vento” | Leonardo Padura (Cuba).