Maria da Graça A. Mateus Ventura. Negreiros portugueses na rota das Índias de Castela (1541-1556). Lisboa: Edições Colibri / ICIA, Col. Travessias, nº 1, 1999. 185 pp.
Este livro organiza-se em torno do estudo de asientos considerados representativo ad precoce participação dos mercadores portugueses no comércio com as Índias de Castela. A partir do asiento de Manuel Caldeira e dos processos fiscais em que este se envolveu, descortina-se um mundo de negócios onde pululam agentes, feitores, se constituem companhias efémeras, se retêm ou desembargam avultadas quantias, onde, em última instância, se degladiam ou complementam interesses públicos e interesses privados. Abre-se o véu sobre a complementaridade de interesses que, durante o período do descobrimento e conquista, permitiu aos portugueses lançarem-se nas rotas indianas, movidos por um comércio lucrativo e pela miragem de uma fortuna fácil. Descreve-se, em traços gerais, a organização e o regime de comércio para introduzir, em seguida, a questão do progressivo e natural domínio dos portugueses como fornecedores e contratantes. Relacionam-se áreas de exploração em África com o ritmo e volume de tráfico negreiro, desmontam-se laços económicos, sociais e jurídicos entre agentes deste negócio para penetrarmos no universo de um homem de negócios típico de Quinhentos, detentor de apanágios, ligado ao poder político e à estrutura comercial e financeira dos impérios ibéricos. É Manuel Caldeira que nos conduz de Lisboa a Sevilha, a Madrid e a Antuérpia, da Guiné a Santo Domingo e às Honduras, percorrendo as rotas dos negócios tecidas sobre um vasto jogo de influências políticas e sociais.
Maria da Graça A. Mateus Ventura. Portugueses no descobrimento e conquista da Hispano-América: viagens e expedições (1492-1557). Lisboa: Edições Colibri / ICIA, Col. Travessias nº 2, 2000. 274 pp.
A historiografia portuguesa tem enfatizado o papel de pilotos e cartógrafos notáveis que trocaram Portugal por Castela. Todavia, exceptuando Jaime Cortesão e Vitorino Magalhães Godinho, os autores portugueses não interpretaram com objectividade o contributo individual dos casos estudados, minimizando a sua acção ou refugiando-se num falso patriotismo. Destacam João Dias de Solis, Fernão de Magalhães, João Rodrigues Cabrilho e Estêvão Gomes, como pilotos ou capitães, ou Diogo Ribeiro, como cartógrafo. Tratam-nos como se fossem casos isolados meramente ilustrativos da superioridade náutica dos portugueses. A sua visão compartimentada da História, condicionada por uma abordagem político-institucional tradicional, impediu-os de mergulhar no campo de uma História sem fronteiras onde se diluem as personagens anónimas. Sabemos que Cristóvão Colombo já levara consigo, em 1492, alguns marinheiros portugueses. Considerando o peso da comunidade portuguesa em Sevilha no século XVI, bem como as tradicionais ligações comerciais entre zoas fronteiriças, suspeitámos do inevitável envolvimento dos portugueses na configuração do espaço colonial hispano-americano. O Arquivo geral das Índias, em Sevilha, conserva, efectivamente, um vasto espólio documental referente a portugueses na qualidade de marinheiros, pilotos, capitães, soldados, carpinteiros, canteiros, mercadores. Este estudo traz para a ribalta uma multidão de anónimos que, de todas as regiões de Portugal continental e insular, partiram com os espanhóis para o Novo Mundo, alheios a questões de nacionalidade.
Ivone Correia Alves. Gamas e condes da Vidigueira: percursos e genealogias. Lisboa: Edições Colibri / ICIA, 2001, Col. Travessias, nº 3. 347 pp.
Recorrendo a uma análise minuciosa, a autora desta obra procurou averiguar quais os antepassados de Vasco da Gama. Árdua tarefa de difícil solução tanto mais que os Gamas se cruzam no Alentejo num emaranhado nem sempre fácil de descortinar. Um dos factores dessa dificuldade reside no problema das identidades homónimas, as quais constituem muitas vezes barreiras que impossibilitam a identificação dos indivíduos através de sucessivas gerações.
Em anexo ao estudo que constituiu a dissertação de mestrado da autora, são facultados ao leitor a lista dos marqueses de Nisa, os condes da Vidigueira, Inventário dos bens móveis de D. Francisco da Gama e o tombo da comenda de Santiago de Beja.
Virgínia Trindade Valadares. Elites mineiras setecentistas: conjugação de dois mundos. Lisboa: Edições Colibri / ICIA, 2004, Col. Travessias nº 4. 541 pp.
Este é um texto sobre raízes. Génese de um povo. Fundação de um Estado. A matéria de que trata é a da formação da primeira e segunda geração das elites mineiras de Setecentos cujo modo de ser e de viver difere, essencialmente, daquele vivido pelo povo pobre e escravizado das minas. O resgate do passado é feito de forma a desvendar contrastes, tensões e complementaridades entre metrópole e colónia, elite e povo, submissão e insubordinação, dependência e independência, opressão e liberdade, heteronomia e autonomia. Esse jogo de contraposição remete-nos para as entranhas de uma cultura patrimonialista estamental e clientelista que conforma e esculpe rostos diversificados, compondo os traços da tradicional sociedade portuguesa e da nascente sociedade Mineira da época. Na leitura, deparamo-nos com semblantes de uma elite que, a um só tempo, nega e reafirma a condição de colonizada e que, segundo a autora, quando ocupa postos de mando reproduz o estilo autoritário de exercício do poder, aprendido na convivência diária com o colonizador português no espaço da Universidade de Coimbra. Este é o amálgama que compõe o rosto das elites que fundam o Estado brasileiro em 1822.
Georgina Silva dos Santos. Ofício e sangue: a Irmandade de São Jorge e a Inquisição na Lisboa Moderna. Lisboa: Edições Colibri/ ICIA, 2005, Col. Travessias nº 5. 315 pp.
Georgina dos Santos, em Ofício e Sangue, restabelece, no estudo do culto de São Jorge, o fio azul que atravessou o Atlântico ligando o imaginário de portugueses e brasileiros. Como escreve Laura de Mello e Souza no prefácio, este livro apresenta-nos um São Jorge eminentemente lusitano, como figura tutelar da monarquia e da independência de Portugal, desde a dinastia de Avis, mas também um dos santos mais cultuados e omnipresentes no Brasil. Estudo que se situa na intersecção do social, do político e do cultural, «trata, sobretudo, dos homens de São Jorge: não sua corte, que o santo era bravo o suficiente para prescindir dela, bastando-lhe o cavalo que corcoreava e uma lança pontuda para enfiar na goela do dragão; mas de homens de verdade, com nomes e sobrenomes comuns, para quem a importância maior residia no fato de integrarem uma corporação profissional ambígua e agora melhor compreendida».
Florbela Veiga Frade. As Comunidades Sefarditas e a Naão Portuguesa de Antuérpia (Séculos XVI-XVII). Lisboa: Edições Colibri/ ICIA, 2021, Col. Travessias nº 6. 440 pp.
Esta obra de Florbela Veiga Frade, resultante da sua tese de doutoramento em 2007 e actualizada com dados procedentes da investigação posterior, constitui um marco importante na historiografia das comunidades sefarditas e das redes de negócios. Além da reflexão conceptual, a autora aborda, nos três longos capítulos, questões relativas à identidade sefardita, à emergência de um novo modelo económico, ao funcionamento das redes mercantis e aos jogos de poder. Aprofunda ainda a questão da discriminação, das perseguições, dos perdões gerais, dos fluxos migratórios e o funcionamento da da comunidade sefardita em Antuérpia. O Apêndice documental inclui oito genealogias, desdobráveis, das famílias sefarditas mais importantes.