Sanlúcar de Barrameda, cidade gaditana com mais 70.000 habitantes, é muito mais do que os 146.000 quilos de lagostins que se venderam na sua lota em 2020 e que os 7.000 hectares de vinhas que alimentam as suas 21 adegas donde sai um tesouro enológico: a manzanilla.
Situada junto ao Parque de Doñana, na margem esquerda da foz do rio Guadalquivir, Sanlúcar de Barrameda, com o seu Barrio Alto e Barrio Bajo e seus monumentos (muitos datados dos séculos XVI e XVII), oferece ao visitante uma visão de como era a cidade quando a expedição de Fernão Magalhães dali partiu em 1519 com 200 homens a bordo de cinco naus e regressou três anos depois com 18 homens comandados por Juan Sebastián de Elcano e apenas uma nau, a ‘Victoria’, depois de ter realizado a primeira circum-navegação do Mundo.
Bastará darmos uma volta por Sanlúcar, desde a plaza del Cabildo até Bajo de Guía, o bairro dos pescadores, para nos darmos conta dos restaurantes e bares onde poderemos provar os produtos típicos da zona. Tortilhas de camarões, mariscos, peixe, guisados com sabor do mar… E uma Plaza de Abastos que faz as delícias dos naturais e dos estrangeiros.
1º dia:
12.00: Visita ao Centro de Interpretação da Manzanilla, CIMA, localizado nas chamadas Covachas., galerias de pórticos de estilo gótico-andaluz onde se destacam as figuras de animais marinhos mitológicos. No CIMA, poderemos conhecer o universo manzanillero formado pelos dezoito principais produtores de Manzanilla e uma mostra museográfica com os utensílios da vindima e equipamentos das adegas.
13.00: No centro e no Barrio Bajo, construído sobre os antigos navazos (sistema de hortas em terrenos arenosos regados com água do mar), a visita a uma adega é incontornável. Por exemplo, La Gitana, fundada em 1792, e que continua nas mãos na oitava geração da família Hidalgo.
14.00: Almoço no Barrio Bajo
Depois, no coração da cidade. rodeado de pátios, bodegas e jardins e pelo perfume suave e refrescante fresco da Manzanilla, propomos que almocemos no Entrebotas que, entre outras iguarias, oferece arrozes melosos, peixe e carne cozinhados com brasas de cortes das vinhas. Para sobremesa, os gulosos poderão ir à doçaria Rondeña, para saborear biscoitos, pão de Cádiz, cortadillos, tortas de amêndoa, e outras guloseimas.
17.00: Entardecendo entre copos na Plaza del Cabildo e tapeando noite adentro:
A Praça do Cabildo é o centro nevrálgico sanluqueño. A praça está sempre viva, seja de manhã, tarde ou noite. E cada hora tem o seu público e cores próprias: a das fachadas brancas, buganvílias e palmeiras. A dos guarda-sóis. O murmúrio da fonte. O antigo cabildo transformou-se numa biblioteca pública cuja sala principal ocupa o antigo pátio. Depois de bebermos uns copos, escutando a historiadora Maria da Graça Ventura a contar a aventura magalhânica, propomos que jantemos por ali.
Durante a tarde, as esplanadas convidam a sentarmo-nos. A taberna Barbiana, La Gitana, a casa Balbino e a taberna Juan desafiam-nos a entrar. No Toni ou na La Ibense podemos refrescar-nos com gelados artesanais.
Depois, subiremos ao 11º andar 11 do hotel Guadalquivir para, desde o Camarote Pub, vermos um intenso e demorado pôr do sol que solo.
Para jantar, um lugar apetecível é a Casa Balbino, na Plaza del Cabildo, onde em 1939 Balbino Izquierdo abriu um armazém de vinhos e onde na década de oitenta começaram a servir guisados caseiros para acompanhar os copos e hoje é um clássico considerado o “templo de las tortillitas de camarones”, uma delícia crocante entre as 70 tapas do menu, onde também se destacam os rollitos de langostino con berenjena, os pimientos rellenos ou o cazón a la marinera. Na ocasião, o nosso associado João Ventura lerá o conto O barril de amontillado de Edgar Alan Poe.
Outros lugares com identidade própria são a taberna Pedro Hernández Santolalla, uma antiga mercearia no rés-do-chão de uma casa de carregadores das Índias do século XVI ou a Casa Perico, com os seus guisados marineros. Para os amantes do vinhos da região, não há melhor do que a Taberna del Guerrita, onde se deve provar o grão com cardos.
2º dia:
Subimos ao Barrio Alto, antigo bairro senhorial, pela calle de Bretones de onde se sitúa o concorrido mercado de abastos. A ziguezagueante encosta de Belén dá acesso ao auditório de la Merced e ao palácio de Orleans e Borbón, atual sede do Ayuntamiento, cujos jardins se podem visitar. Porém, poderemos desfrutar de outro jardim. Na plaza de los Condes de Niebla, ao lado da bela igreja de Nuestra Señora de la O, fica o palácio Ducal de Medina Sidonia, também hospedaria, e que acolhe o arquivo visitável, e os salões de Columnas e dos Embajadores. Os sanluqueños recomendam tomar o pequeno almoço no jardim do palácio: íntimo, de um colorido intenso, com recantos de sombra; como fundo, o canto dos pássaros e como aroma, além do perfume odor marítimo marino, o perfume da flor de laranjeira.
É impressionante a arquitetura residencial de estilo barroco baixo-andaluz da calle de Caballeros e as adegas da rua dedicada ao dramaturgo Eguilaz: ali cheira a manzanilla e pode-se avaliar até que ponto as adegas Barbadillo foram um epicentro económico. No final de calle Eguilaz, sitúa-se o castelo de Santiago. As pedras de cor terrosa terroso contrastam com a brancura das casas senhoriais e com as ferragens negras. Desde a torre de menagem, a rainha Isabel la Católica viu o mar pela primeira vez.
13.00: Bajo Guía
Sanlúcar, com os seus seis quilómetros de praias, tem na zona de Bajo de Guía, onde se junta rio Guadalquivir com as águas do Atlântico, a sua melhor montra. Para almoçar, além da famosa cozinha da Casa Bigote, com os seus insuperáveis lagostins e guisados como a raia em molho de laranja azeda ou o tamboril com pão frito pão frito, existem o Poma, com os seus arrozes marineros e o peixe de rocha ao sal, o Mirador de Doñana, de onde se pode desfrutar de una sopa de galeras ou uma salada de gambas e ovas de choco. A zona de Bajo de Guía, em cujas margens, até 1967, todas as manhãs se leiloava o peixe capturado, deixou de ser as traseiras da cidade, transformando-se num agradável e solarengo lugar para nos sentarmos à de um dos restaurantes que há por ali.