Maria da Graça A. Mateus Ventura (Coord.). Manuel Teixeira Gomes. Ofício de Viver. Lisboa, Tinta da China/ICIA, 2011.
A cultura portuguesa deve ao mais singular dos viajantes portugueses do final do século XIX e primeira metade do XX, o reconhecimento da coerência ética, enquanto político, e do legado literário, enquanto escritor. “Excepcionalmente precoce na visão do amor e da política”, Manuel Teixeira Gomes preservou sempre a independência das suas convicções e da sua ação cívica. Optou por viver no mundo árabe os últimos dez anos da sua vida, numa atmosfera que lhe era familiar desde a infância no Algarve. Ateu impenitente, deslumbrava-se pela arte religiosa, quer fosse islâmica quer fosse cristã. Era a arte acima de todas as divergências e conflitos que lhe importava. O seu culto pagão à Natureza e à beleza não era compatível com o ruído causado pela discórdia. A sua sensualidade não distinguia raças nem culturas. A beleza do corpo era imune à pobreza, à riqueza, à raça. Conhecera povos muito diferentes, aprendera a reconhecer-lhes a idiossincrasia. A diversidade cultural encantava-o e pela vertigem cosmopolita da sua vida e da sua obra perpassa uma mensagem de diálogo intercultural que o Instituto de Cultura Ibero-Atlântica, associação cultural sedeada na sua terra natal, adopta justamente como tributo à sua memória.