Palestra
A cidade da Ribeira Grande e o porto grande do Mindelo, Espaços económicos e cosmopolitas das ilhas de Cabo Verde, por Maria Manuel Ferraz Torrão
27 de maio 2023, Biblioteca Municipal de Portimão
Organização: ICIA e CH-ULisboa
https://youtu.be/B0NJ4E3fdz0
Sinopse:
A importância das ilhas de Cabo Verde, ao longo dos séculos, sempre foi marcada pela sua posição geoestratégica no espaço atlântico. Estas ilhas estavam geograficamente próximas da região da costa da Guiné, para que os seus moradores pudessem participar no comércio realizado nas margens dos Riosvindos do hinterland africano, mas usufruiriam, ao mesmo tempo, da segurança que a insularidade lhes proporcionava. Assim, as ilhas de Cabo Verde foram, desde o final do século XV até aos inícios do século XVII, um entreposto de mercadorias trocadas entre vários espaços mundiais. Navios, homens, animais, plantas, alimentos, mercadorias mais ou menos valiosas, informações vindas de todo o globo cruzavam no espaço cosmopolita da Ribeira Grande, primeira capital portuguesa no Trópicos.
Os séculos XVII e XVIII, afastando Cabo Verde dos grandes eixos comerciais, obrigaram a uma reestruturação da sua economia alterando a constituição da sociedade. Neste espaço insular operou-se uma “interiorização”, uma viragem para dentro de si próprias que conduziu a uma exploração incessante de produtos locais que permitissem a subsistência de uma população maioritariamente formada por mestiços e forros. No entanto, no século XIX, as mudanças económicas provocadas pela Revolução Industrial Inglesa, a partir de 1750, promoveram, novamente, que este arquipélago assumisse a um papel importante nos negócios atlânticos. Foi a vez da povoação do Mindelo e do seu Porto Grande, na ilha de São Vicente, se transformassem num novo centro cosmopolita, cheio de ocupações económicas e transações financeiras, de aplicações tecnológicas modernas e local onde circulavam as notícias mais recentes de todo o espaço ultramarino. Os membros da sociedade europeia que aí se estabeleceram espalharam pelo espaço mindelense um “glamour” especial; para que estas transformações se verificassem contribuiu de novo a posição geoestratégica do arquipélago e não qualquer riqueza natural autóctone.
A conjuntura que conduziu à “construção” deste novo espaço cosmopolita na capital de São Vicente, os motivos e as suas repercussões económicas e financeiras para o arquipélago são alguns dos aspetos sobre os quais se pretende refletir nesta conferência.
